O tempo está passando e eu não consigo voltar.
Eu não consigo controlar o ponteiro do relógio, muito menos os dias que vão sendo riscados no calendário.
Eu tento recordar todas as noites as belas imagens, pra nunca serem esquecidas da memória. Mesmo sem querer. Ou relembro “quase sem querer”.
Eu não quero que o tempo apague as lembranças, nem mesmo as que não foram vividas. Eu não quero me esquecer de palavra alguma, de sorriso algum. Eu não quero que o tempo passe e vá sutilmente apagando a imagem que eu não quero esquecer.
As lembranças trazem a recordação do que eu não consigo ‘deslembrar’. Talvez nem queira. Não sei bem.
Fecho os olhos e posso sentir. Posso ouvir, posso até mesmo tocar.
São imagens, são figuras, são vozes, sons e texturas. São lembranças que eu nunca entendi o porquê de não terem sido vividas.
Foram desejos imediatos não atendidos, espera não agendada. Ocupação que não foi preenchida...
Caberia um último pedido, talvez. “Então me abraça forte, me diz mais uma vez que já estamos... distantes” – sim, distantes das certezas tão exatas. Eu não carrego a dúvida de que a promessa foi eterna e o desejo foi intenso, mas... e as palavras? E os olhares? Não, nem foi tempo perdido. “Somos tão jovens, tão jovens”.
“Aquele gosto amargo do teu corpo ficou na minha boca por mais tempo. De amargo então, salgado ficou doce. Assim que o teu cheiro forte e lento fez casa nos meus braços e ainda leve, forte, cego e tenso fez saber que ainda era muito e muito pouco (...)” – L.U.