quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Esquecimento


Maria estava quieta, num canto, sozinha, chorando.
Um rapaz se aproximou. Se apresentou.
Era Lucas, que chegou lhe questionando:
"- Por que as lágrimas assim, tão sofridas?"


Se conheceram. Tiveram de se despedir.
Se falavam constantemente. Um com o outro, loucamente.
Prometeram se encontrar, novamente.
Mas algo fez Lucas desistir de repente. Nada adiantava Maria pedir.


Outro dia se encontraram, conversaram.
Era uma história linda, vivida no desejo e da memória apagada.
Porém, nunca mais tocaram no assunto. Era agora uma página arrancada.


"saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento"
- Chico Buarque -

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Conversa com Clarice


Um dia Clarice estava quieta, e eu perguntei o que havia.
Ela me respondeu que, por um instante, não entendeu o silêncio, porque "esperava fogos de artifício". Mas depois de um tempo ela se virou e disse: "- Esqueci que as estrelas não fazem barulho".
Seria uma comemoração? - Questionei silenciosamente para mim mesma.
De repente, acho que ela entendeu a minha silenciosa indagação e respondeu:
"- Tenho tal tendência à felicidade. Sinto-me esses últimos dias irradiante e radiosa por viver".
Que beleza! Que alegria contagiante. No mesmo momento me sentia como ela, irradiante. Lembrei-me de uma frase de Clarice que li um dia, dizia assim: "Que é que se consegue quando se fica feliz? O que vem depois?". O que eu não entendia, era o que ela questionou, se alí parecia não se importar com o depois. Pra mim importava. Eu queria, loucamente, saber o que vinha depois de tamanho sentimento de felicidade.
Mas ela não falou mais nada. Rabiscou ao final de uma folha em branco, como quem quisesse dizer que ainda faltava o mais importante de sua história. Virou-se e estava quase indo embora, quando perguntei o que lhe faltava, pois tamanha era a felicidade dela pela vida que me parecia estar completa. Sem titubiar, me respondeu com ar sereno:
"- Que Deus me ajude a conseguir o impossível, só o impossível me importa", mas "algo está sempre por acontecer". Não me importo, "o imprevisto me fascina".

Ela vivia pelo impossível. E ninguém imaginava que isso era possível.