terça-feira, 17 de novembro de 2020

De repente


Eu sei que a essa altura da vida eu não vou mais esbarrar com ninguém sem bagagem de vida. Só que eu ando sentindo ciúme de toda bagagem de vida que você carrega... e olha que eu nem sei se são muitas, porque eu não sei de quase nada.
Só que eu ouço uma história aqui e vejo uma imagem congelada ali e isso me dá um frio aqui dentro que eu consigo comparar a um medo de você se perder de mim. 
Eu não sei o que anda acontecendo com aquela mulher tão certa e segura de liberdade no relacionamento. De individualidade em primeiro lugar. O que eu sei é que com você eu quero que a individualidade seja partilhada, que a liberdade seja inteira junto contigo.
Eu não sei onde foi parar aquela mulher tão segura que não se importava com qualquer passo da outra pessoa, porque com você eu sinto a ausência quase que de mim mesma quando não estou perto. E na maior parte eu não estou.
Eu quase nunca sei qualquer coisa sobre você. É como se tivesse acontecido a vida quando nos conhecemos. E ela continuado agora, que nos reencontramos. Só que ao mesmo tempo que tudo é tão raso de informações, é perfeitamente profundo de sentimentos. Eu mergulho lá no fundo e é cada vez mais profundo. Por mais que eu queira e tente me manter na superfície, com você é impossível. É tudo intenso, profundo, totalmente às cegas.
E eu entrego toda minha consciência pra você. E gosto da sensação. Eu fico tranquila estando completamente vulnerável ao seu lado. E pra mim, que sempre tentei manter o total controle da vida, é surpreendente ao mesmo tempo que me é desesperador.
Eu mergulho na minha caixa de incertezas estando com você, como se eu nem me importasse com elas. Por mais planos que eu fique planilhando, a verdade é que com você eu só consigo viver agora, porque nada no universo me importa mais do que estar deitada no seu peito. Todos os mil planos que eu fico desenhando quando estou contigo é só o desespero que eu sinto da gente se perder outra vez.
Eu apresento o meu mundo pra você, passando por cima de todas as inseguranças que isso tem pra mim, com o mais puro medo de você não querer embarcar nele. 
Eu te conto minhas histórias e partilho minha vivência sendo eu mesma, pra você logo saber toda minha essência e decidir se quer encarar tudo isso.
Eu não tenho controle de trava nenhuma contigo. É o contrário da minha vida toda que eu nunca quis mostrar pra ninguém. De repente eu conto histórias pra você. De repente eu abro a minha vida inteira com você. De repente você conhece minha alma inteira nua. Completamente sem abrigo.
De repente você entra no labirinto dos meus pensamentos. De repente você entra na minha vida. De repente você conhece toda minha intimidade. E, de repente, com uma taça de vinho na mão, você me mostra um mundo que eu vivi e esqueci. 


"Tell me your secrets
And ask me your questions
Oh let's go back to the start"
-The Scientist - Coldplay -

domingo, 19 de abril de 2020

Série: Covid-19

Foto: Hospital na Itália exibida nos jornais.

Todo mundo sabia a situação mundial por conta dos noticiários, porque só se falava na pandemia. A China foi o primeiro país a noticiar casos, então, enquanto o resto do mundo começava a viver o caos, a China dava os primeiros sinais de recuperação. Na Itália só se falava em aumento do numero de mortos. Os noticiários mostravam os profissionais da saúde desolados, cansados. Muitos pacientes precisando de respiradores, até começarem a ter que escolher o paciente que receberia o respirador e o paciente que morreria por falta dele. Centenas de pessoas morriam por dia. Somados os países, milhares de pessoas perdiam a batalha pro vírus, que ninguém via.

Eu estava trabalhando normalmente. Mas o mundo já apontava caos. Terça-feira alguns colegas de trabalho do grupo de risco ou com filhos pequenos já não foram mais. Quarta-feira, os olhares nos corredores eram de medo. Ninguém sabia o que ia acontecer. Quinta-feira, os olhares eram de pavor. Eu fui ao mercado. Vi pessoas com carrinhos de compra lotados de fardos de alimentos e papéis higiênicos. Filas enormes nos caixas. Ninguém sabia o que ia acontecer dali pra frente.

No final do dia, arrumei minha estação de trabalho para ir pra casa como todos os dias eu faço. Voltaria na sexta. Não voltei. Ninguém voltou. As portas fecharam. O mundo parou. Eu voltei pra casa em pânico. Dirigi pensando em chegar em casa e trancar a porta. Sem saber quando ia poder abrir de novo.


Série: Covid-19


O ano é 2020. O vírus se chama "covid-19", o "novo coronavírus". 

O mundo existia normalmente. Até que tudo começou. As pessoas foram se contaminando muito rápido. Virou uma epidemia. Tinham muitos casos na China. Continuou se espalhando muito rápido e a Organização Mundial da Saúde declarou pandemia. Os jornais só noticiavam o aumento do número de contaminados, a falta de leitos de UTI, a falta de respiradores e o aumento do número de mortes. De repente o mundo parou. As pessoas tiveram que se isolar em casa, pra evitar ainda mais a disseminação do vírus. Ninguém mais pode se abraçar. Começou o "distanciamento social". As ruas esvaziaram. Os vôos foram cancelados. O comércio fechou. As prateleiras dos mercados também. Nas farmácias não havia mais álcool, luvas ou máscaras, porque o mundo inteiro precisava desses insumos. Países entraram em colapso. O cotidiano desacelerou. O mundo acelerou junto para combater o vírus. 


"And when all the broken hearted people
Living in the world agree
There will be an answer
Let it be
For though they may be parted there is
Still a chance that they will see
There will be an answer"

- Let it be - The Beatles -

Blackbird

Eu quadrada. Ele sem forma.
Eu raiz. Ele folha solta.
.
Eu lagoa. Ele rio.
Eu aqui. Ele agora.
.
Eu sonho. Ele realiza.
.
Eu medo. 
Ele mundo. . .



"Blackbird singing in the dead of nightTake these sunken eyes and learn to seeAll your lifeYou were only waiting for this moment to br free"- Backbird - The Beatles -