quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Mas eu também sou

As palavras que você disse aquele dia ainda estão processando aqui dentro, assim como a sua atitude. Eu não quero de novo esse negócio de ‘fui contigo porque eu disse que iria’, ok? Eu quero sempre aquele negócio de ‘vou contigo sempre que for preciso, até mesmo quando nem for’, mesmo isso nunca tendo acontecido e não haver qualquer previsão para que isso ocorra.
Eu continuo aqui pensando em tudo. Pensando no tempo atrasado que eu cheguei, pensando no tempo que a gente passa junto, que a gente se dá bem. Pensando no tempo que a gente pensa um no outro. Ou no tempo que eu penso em você.
Eu vou continuar pensando na afirmação de que ‘a gente não é nada concreto’, porque, de fato, não somos. Vou continuar aqui pensando em encontros, planos e desvios. Pensando em você me dizendo que eu ‘não iria gostar de passar por isso’ e depois afirmando que nem mesmo você gostaria.
Vou ficar aqui, pensando em quantas coisas mais eu preciso ouvir pra entender que você é especial, mas que eu também sou.

*Rascunho encontrado em meio a rascunhos perdidos, datado de 12 de outubro de 2014.

"I sit here on the stairs
'Cause I'd rather be alone
If I can't have you right now I'll wait, dear
Sometimes I get so tense
But I can't speed up the time
But you know, love, 
there's one more thing to consider"
- Patience - Guns N' Roses -

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Metáfora de uma quadrilha

Paula namorava Fernando
Fernando se interessou por Gabriela
Gabriela gostava de Eugênio
E Eugênio não gostava de ninguém.

Paula achou que era culpa de Gabriela 

Fernando levou um pé na bunda
Gabriela chorou por Eugênio
Porque Eugênio simplesmente Sumiu.

No final das contas...

Paula não gosta mais de Gabriela
Gabriela não teve culpa alguma
Fernando que foi um cafajeste
Mas hoje chora por Paula.

E o Eugênio?

Sumiu.

Uma metáfora de Drummond adotada para os personagens da vida real.



"João amava Teresa que amava Raimundo 

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili 
que não amava ninguém. 
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento, 
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, 
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes 
que não tinha entrado na história".

Quadrilha - Carlos Drummond de Andrade


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Fantasia


Não vou negar que a ligação de boa noite me fez falta. Não posso negar que daqui pra frente eu vou sentir falta do celular tocar, me acordando. Mas essa vai ser uma falta pequena diante de toda a falta que eu vou sentir. Mas a gente já sabia que ia ser assim, né? A gente sabia que essa hora ia chegar. Os dias estavam passando e a única certeza que a gente tinha era de que uma hora toda a verdade inventada por nós teria que se tornar verdade existente no mundo real. E claro que vai doer. Acho que em você também. Mas também, a essa altura do campeonato, nesse capítulo da minissérie, o que é que não doeria, não é?
A gente sabia... o que me doí mais eh que desde o começo a gente sabia que toda essa nossa verdade inventada acabaria assim, com o coração partido, com saudade aumentada e sentimento de quem teve um dia e não pode mais ter mais. Só que a gente assumiu o risco, né? A gente achou tão bom o primeiro capítulo que a gente quis continuar acompanhando a minissérie, mesmo já sabendo o final clássico de toda história bonita que começa torta e um dia acaba. Além disso, a gente achava que tinha o domínio e o controle de toda a situação. Eu, pelo menos, tinha certeza disso. Até perder o controle.
Mesmo estando por trás dos bastidores, mesmo vendo toda a movimentação das cenas e encenações, eu acabei me envolvendo na historia que nem minha é. Só que foi um pouco pior. Eu acabei me apaixonando pelo personagem. Que erro primário, né? Eu acabei me apaixonando por tudo aquilo que eu mesma inventei de você. Acabei te criando do meu jeito, da forma que eu queria acreditar que fosse, sem ser realmente.
Dessa forma, você era meu, porque eu fazia acreditar que era assim. A bolha que a gente criou era um mundo que nunca ia existir no plano real. Mesmo seu coração estando ocupado com toda a sua vida certa, eu achava que um pedaço ali podia ser meu, como se o pouco me bastasse. Só que eu sou tão inteira. Eu sou completa. Eu não sei brincar de ser metade inteira de uma verdade inventada. Achei que soubesse, mas eu errei.
Mesmo enxergando seus erros, eu ressaltava os seus acertos. Mesmo vendo suas falhas, eu ressaltava suas conquistas. E eu quis fazer parte de muitas delas. Era como se isso me fizesse acreditar que eu seria, de alguma forma, importante pra você.
No fim de tudo isso, eu vejo que quase nada faz sentido. A gente se dá tão bem, que eu achava que a gente se fazia bem. Então, faz assim, guarda tudo que eu te acrescentei, se é que você acha que eu acrescentei alguma coisa, pois eu vou fazer o mesmo. Se doer no começo, tenta o que eu tô tentando... tenta guardar a saudade no fundo da gaveta, meio esquecida. Às vezes ela dá um trégua. Vai lá ser feliz. Não sei se é sempre que príncipes e princesas ficam juntos. Talvez por isso chamem de "fantasia".
 (Rascunho de gaveta, sem data). 

"E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero"
- Giz - Legião Urbana -

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Ou você vence ou você perde a batalha, o que não significa desistir.

Eu tenho tentado abrir a porta do meu coração e deixar a brisa entrar. Mas parece que não dá. Parece que o vento bate na cortina e não entra. Eu até tenho vontade de facilitar a passagem do vento, mas é como se metade de mim quisesse e a outra metade não. 
Eu tento te olhar, eu tento te ouvir. Mas eu acabo não conseguindo. Eu não me acostumo com o seu jeito, não me acostumo com os seus cuidados, não me acostumo com a sua presença, tão presente. 
Aí eu acabo me afastando, acabo me encolhendo e evitando você. Eu tento não te ouvir, tento não me importar e tento fingir ser normal você bater na minha porta com um sorriso largo estampando a felicidade ao me ver. Eu tento fingir ser tão bom te encontrar quanto eu vejo que é pra você, assim como falar no telefone ou ler as suas mensagens.
Eu tenho tentado trabalhar esse meu lado de aceitar você tão bem quanto parece que você me quer bem, mas alguma coisa não se encaixa. Alguma coisa em mim não aceita, alguma coisa em mim repele esse seu (excesso) de carinho, cuidado e atenção, dedicados a mim.
E então eu não sei o que fazer. Eu não sei o que te dizer. Eu já fui tão sincera quando eu disse que a gente era diferente e que eu me faria tentar. E eu estou tentando, juro. Só que está cada vez mais difícil e parece que eu não estou conseguindo. E não conseguir, tendo tentado muito, me faz aceitar como perdida a batalha. Não é desistir o termo certo, é aceitar como perdida a batalha. Isso significa que eu tentei. Significa que eu fiz tudo o que eu pude, enquanto eu pude. 
Alguma coisa aqui dentro me impede de te aceitar.