segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Na minha teoria, o idêntico é artificial



A mania de achar que todo mundo tem que ser igual pra se relacionar pra mim não tem qualquer sentido. A gente era diferente? Sim, claro! E a gente era igual? Em algumas coisas, como todo mundo. Ninguém é igual ao outro na totalidade do ser. E a gente era assim, uma mistura de quase todo diferente para uma proporção de um pouco igual.

Sabe o que diferencia? A disposição. E eu sempre estive disposta pra você. Mas eu tinha a impressão de que você só se apegava às nossas diferenças, ressaltando-as o tempo todo. Sim, éramos diferentes em quase tudo, mas naquele pouquinho que sobra da conta do quase nada, éramos bem iguais.

Tínhamos as mesmas aspirações de vida, o mesmo carinho um com o outro, o mesmo desejo de ficar junto e o mesmo amor. Mas aí é que tá… às vezes você se esquecia dessa parte pequena de semelhança que a gente carregava, de tão pequena… E nas brigas e discussões, você sempre expressava a sua certeza de não darmos certo pelo fato de não sermos tão iguais, esquecendo qualquer parte da disposição de fazer dar certo.

Então, tomara que você encontre uma pessoa tão igual a você. Desejo isso porque você acredita nisso. Já eu? Fico aqui e continuo com a minha teoria de que a metade direita da laranja não é idêntica à metade esquerda, até porque, se fosse, não se encaixaria. Na minha teoria, o idêntico é artificial.


"Metade de mim agora é assim
De um lado a poesia, o verbo e a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar ao fim
E o fim é belo incerto, depende de como você vê"
- O anjo mais velho - O Teatro Mágico -


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Borracha

Resultado de imagem para apagar coração

Sabe quando a gente passa a borracha várias vezes no mesmo lugar e o papel ali vai ficando gasto, bem fininho? E aquelas marcas escritas que a gente tenta apagar com a borracha não somem, ficam ali, com marcas fundas no papel? Então. Foi mais ou menos assim, eu acho.

A gente escreveu vários capítulos nossos. Uns bonitos, outros ainda mais maravilhosos. Só que tiveram alguns não tão bons assim e toda vez que a gente tinha um capítulo não tão bom, a gente passava a borracha, mas sempre ficava uma marca, por mais que a gente tentasse, por tudo, apagar.

Então, ainda que quem olhasse não visse nada, de perto tinham as marcas fundas no papel. E hoje eu sei que cada uma das marcas é cada um dos finais, até chegar nesse, que parece realmente o fim.

Engraçado que todo final foi você quem escolheu. Não que eu tenha suprido as minhas vontades com o silêncio ou a falta de atitude de eu mesma por um fim, mas eu sempre fui assim, de esperar ter certeza pra não ter que escrever em cima da marca do fim. 

Na verdade, eu gosto mesmo de papéis limpos, em branco e novos. Sou meio avessa ao uso de borrachas e liquid papers. Se preciso for, passo um risco, mas costumo deixar o erro ali visível e não ter que camuflar; pra ver e lembrar que não posso mais errar daquele jeito.

Mas cada um faz do seu jeito, né? E eu aceitei alguns términos seus, sempre com a mesma justificativa. Mas essa eu sei que o papel já está quase rasgando de tanta borracha passada, de tão fino que está.

E eu não consigo mais escrever por cima, porque tenho que tomar tanto cuidado pra não rasgar o papel que eu não consigo mais escrever sem pesar a mão, sem ter traços firmes e sem ser eu mesma. Aí, sem a minha essência, acabo deixando de ser eu, o que pra mim não vale.

Então eu fico aqui, onde você me deixou e com um papel sem rasuras, mas fino de tanto passar a borracha. Escrita uma história tão bacana e que era tão diferente, que tinha tudo pra não dar certo, mas deu. Até o papel rasgar.


"Somethimes it lasts in love, but somethimes it hurts instead
Nothing compares, no worries or cares
Regrets and mistakes they´re memories made
Who would have known how bitter sweet this would taste"
- Someone like you - Adele -