sábado, 9 de janeiro de 2016

Extremos e meio termos

Eu tô sentindo o peso da responsabilidade nas minhas costas. Ele aparece também nas marcas de expressão que eu coleciono no meu rosto. Também no olhar cansado que eu carrego hoje em dia. Esse peso está chegando junto com a consciência de que a vida não se vive apenas e tão somente por si só, sem planos, sem delimitações e sem traçados, por mais que a gente queira. Chega uma hora que a gente sente que tudo vai mais além do que a gente acha; que depois da curva ainda tem mais uma longa estrada e que depois da tempestade ainda tem sol e chuva outra vez.
Ser sozinha dói. Ser acompanhada também dói. Ficar só dói. Ficar junto também dói. Muita gente dá trabalho, pouca gente também dá. Família complica um pouco as coisas, mas também é a base de todas as coisas. Paixão atrapalha um pouco, desfoca. Mas a falta dela também não foca. Balada ajuda a esquecer problemas. Silêncio, às vezes, também. Olhos cheios de lágrimas limpam dores. Secos, doem, precisam de colírio.
Eu, que sempre fui tão acostumada com os extremos, vou agora aprendendo a lidar com meio termos. Eu vou tentando pegar a saudade que eu sinto e dividir em pequenas frações pra distribuir durante o dia todo, porque se eu sentí-la toda de uma só vez, acho que não aguento. E da mesma forma, eu aposentei o colírio, porque não preciso mais de lubrificantes oculares artificiais. Minha demanda natural já anda sendo o suficiente... até mais que isso, eu diria. E, por ora, vou preferindo o coração vazio daquela paixão ardente que todo mundo deseja ter um dia. Por enquanto ando evitando qualquer risco que possa não me fazer bem, viver já tem sido arriscado demais.

"Hey, mãe, alguma coisa ficou pra trás
Antigamente eu sabia, exatamente, o que fazer [...]
Hey, mãe, já não esquento a cabeça
Durante muito tempo isso era só o que eu podia fazer
Mas, hey, mãe, por mais que a gente cresça
Há sempre alguma coisa que a gente não consegue entender
Por isso, mãe, só me acorda quando o sol tiver se posto
Eu não quero ver meu rosto antes de anoitecer
Pois agora lá fora o mundo todo é uma ilha
Há milhas e milhas e milhas de qualquer lugar"
- Terra de Gigantes - EngHaw -

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Mas eu também sou

As palavras que você disse aquele dia ainda estão processando aqui dentro, assim como a sua atitude. Eu não quero de novo esse negócio de ‘fui contigo porque eu disse que iria’, ok? Eu quero sempre aquele negócio de ‘vou contigo sempre que for preciso, até mesmo quando nem for’, mesmo isso nunca tendo acontecido e não haver qualquer previsão para que isso ocorra.
Eu continuo aqui pensando em tudo. Pensando no tempo atrasado que eu cheguei, pensando no tempo que a gente passa junto, que a gente se dá bem. Pensando no tempo que a gente pensa um no outro. Ou no tempo que eu penso em você.
Eu vou continuar pensando na afirmação de que ‘a gente não é nada concreto’, porque, de fato, não somos. Vou continuar aqui pensando em encontros, planos e desvios. Pensando em você me dizendo que eu ‘não iria gostar de passar por isso’ e depois afirmando que nem mesmo você gostaria.
Vou ficar aqui, pensando em quantas coisas mais eu preciso ouvir pra entender que você é especial, mas que eu também sou.

*Rascunho encontrado em meio a rascunhos perdidos, datado de 12 de outubro de 2014.

"I sit here on the stairs
'Cause I'd rather be alone
If I can't have you right now I'll wait, dear
Sometimes I get so tense
But I can't speed up the time
But you know, love, 
there's one more thing to consider"
- Patience - Guns N' Roses -

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Metáfora de uma quadrilha

Paula namorava Fernando
Fernando se interessou por Gabriela
Gabriela gostava de Eugênio
E Eugênio não gostava de ninguém.

Paula achou que era culpa de Gabriela 

Fernando levou um pé na bunda
Gabriela chorou por Eugênio
Porque Eugênio simplesmente Sumiu.

No final das contas...

Paula não gosta mais de Gabriela
Gabriela não teve culpa alguma
Fernando que foi um cafajeste
Mas hoje chora por Paula.

E o Eugênio?

Sumiu.

Uma metáfora de Drummond adotada para os personagens da vida real.



"João amava Teresa que amava Raimundo 

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili 
que não amava ninguém. 
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento, 
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, 
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes 
que não tinha entrado na história".

Quadrilha - Carlos Drummond de Andrade


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Fantasia


Não vou negar que a ligação de boa noite me fez falta. Não posso negar que daqui pra frente eu vou sentir falta do celular tocar, me acordando. Mas essa vai ser uma falta pequena diante de toda a falta que eu vou sentir. Mas a gente já sabia que ia ser assim, né? A gente sabia que essa hora ia chegar. Os dias estavam passando e a única certeza que a gente tinha era de que uma hora toda a verdade inventada por nós teria que se tornar verdade existente no mundo real. E claro que vai doer. Acho que em você também. Mas também, a essa altura do campeonato, nesse capítulo da minissérie, o que é que não doeria, não é?
A gente sabia... o que me doí mais eh que desde o começo a gente sabia que toda essa nossa verdade inventada acabaria assim, com o coração partido, com saudade aumentada e sentimento de quem teve um dia e não pode mais ter mais. Só que a gente assumiu o risco, né? A gente achou tão bom o primeiro capítulo que a gente quis continuar acompanhando a minissérie, mesmo já sabendo o final clássico de toda história bonita que começa torta e um dia acaba. Além disso, a gente achava que tinha o domínio e o controle de toda a situação. Eu, pelo menos, tinha certeza disso. Até perder o controle.
Mesmo estando por trás dos bastidores, mesmo vendo toda a movimentação das cenas e encenações, eu acabei me envolvendo na historia que nem minha é. Só que foi um pouco pior. Eu acabei me apaixonando pelo personagem. Que erro primário, né? Eu acabei me apaixonando por tudo aquilo que eu mesma inventei de você. Acabei te criando do meu jeito, da forma que eu queria acreditar que fosse, sem ser realmente.
Dessa forma, você era meu, porque eu fazia acreditar que era assim. A bolha que a gente criou era um mundo que nunca ia existir no plano real. Mesmo seu coração estando ocupado com toda a sua vida certa, eu achava que um pedaço ali podia ser meu, como se o pouco me bastasse. Só que eu sou tão inteira. Eu sou completa. Eu não sei brincar de ser metade inteira de uma verdade inventada. Achei que soubesse, mas eu errei.
Mesmo enxergando seus erros, eu ressaltava os seus acertos. Mesmo vendo suas falhas, eu ressaltava suas conquistas. E eu quis fazer parte de muitas delas. Era como se isso me fizesse acreditar que eu seria, de alguma forma, importante pra você.
No fim de tudo isso, eu vejo que quase nada faz sentido. A gente se dá tão bem, que eu achava que a gente se fazia bem. Então, faz assim, guarda tudo que eu te acrescentei, se é que você acha que eu acrescentei alguma coisa, pois eu vou fazer o mesmo. Se doer no começo, tenta o que eu tô tentando... tenta guardar a saudade no fundo da gaveta, meio esquecida. Às vezes ela dá um trégua. Vai lá ser feliz. Não sei se é sempre que príncipes e princesas ficam juntos. Talvez por isso chamem de "fantasia".
 (Rascunho de gaveta, sem data). 

"E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero"
- Giz - Legião Urbana -

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Ou você vence ou você perde a batalha, o que não significa desistir.

Eu tenho tentado abrir a porta do meu coração e deixar a brisa entrar. Mas parece que não dá. Parece que o vento bate na cortina e não entra. Eu até tenho vontade de facilitar a passagem do vento, mas é como se metade de mim quisesse e a outra metade não. 
Eu tento te olhar, eu tento te ouvir. Mas eu acabo não conseguindo. Eu não me acostumo com o seu jeito, não me acostumo com os seus cuidados, não me acostumo com a sua presença, tão presente. 
Aí eu acabo me afastando, acabo me encolhendo e evitando você. Eu tento não te ouvir, tento não me importar e tento fingir ser normal você bater na minha porta com um sorriso largo estampando a felicidade ao me ver. Eu tento fingir ser tão bom te encontrar quanto eu vejo que é pra você, assim como falar no telefone ou ler as suas mensagens.
Eu tenho tentado trabalhar esse meu lado de aceitar você tão bem quanto parece que você me quer bem, mas alguma coisa não se encaixa. Alguma coisa em mim não aceita, alguma coisa em mim repele esse seu (excesso) de carinho, cuidado e atenção, dedicados a mim.
E então eu não sei o que fazer. Eu não sei o que te dizer. Eu já fui tão sincera quando eu disse que a gente era diferente e que eu me faria tentar. E eu estou tentando, juro. Só que está cada vez mais difícil e parece que eu não estou conseguindo. E não conseguir, tendo tentado muito, me faz aceitar como perdida a batalha. Não é desistir o termo certo, é aceitar como perdida a batalha. Isso significa que eu tentei. Significa que eu fiz tudo o que eu pude, enquanto eu pude. 
Alguma coisa aqui dentro me impede de te aceitar. 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O que eu faço?

E foi assim, sem intenção nenhuma que a gente teve a conversa mais doída que eu esperava da vida toda. Foi tão sincera, que deixou o meu coração meio espedaçado, com vontade zero de se refazer.
E eu senti que uma lágrima queria escorrer no canto do meu olho. Eu senti. Mas eu segurei. Eu segurei ela firme ali, até ter certeza de que você não notaria.
E continuei ouvindo você. Continuei te afrontando com todas as palavras que eu não sei de onde surgiu a coragem de dizer. E foi assim, olhando dentro dos seus olhos que eu ouvi que o seu relacionamento era importante. Que, por todas as coisas que você me dizia dele, eu tinha a certeza que não era tão importante assim pra você. Só que eu estava enganada. Mas eu vi no fundo do seu olho e na firmeza da sua voz que os anos juntos tem um significado que eu não queria nunca aceitar. Não é egoísmo, eu juro. É um pesar de querer bem. De querer sem poder ter.
E o que eu faço com as palavras que a gente trocou? O que eu faço com a esperança que eu guardei? O que eu faço com os meus dias se forem todos sem você?

"Nobody said it was easy
It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh, take me back to the start"

- The Scientist - Coldplay -

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O início, o fim e o meio

E quando eu paro para pensar sobre tudo desde o começo, eu já me perco no pouco tempo que parece muito. Foi começo que se misturou com o meio e, de repente, já era o fim. De repente a gente já estava ali, dividindo os dias, os problemas, as frustrações, as expectativas e tudo mais o que fazia parte da minha vida e depois, da sua. Eu acordo com saudade de você e te ver vem sendo a melhor parte do meu dia.

"às vezes você me pergunta porquê eu sou tão calado
não falo de amor quase nada, nem fico sorrindo ao teu lado
(...) você me tem todo dia, mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você, mas você não está em mim"
- Gitã - Raul Seixas -

 

domingo, 12 de outubro de 2014

Sobre as expectativas

Eu não sei quando não foi assim, mas desde que me entendo, odeio expectativas. Odeio esperas ansiosas, desde esperas por ligações até esperas por consulta médica. 
Eu gosto mesmo é da espontaneidade, sem expectativa, sem cultivar ansiedades. Gosto de acontecimentos, não planejamentos. Gosto do real, não do imaginário - ainda que na maioria das vezes eu me veja nesse plano, não naquele.
Então, não me prometa um encontro se você não pode vir.Faz assim, apareça de repente, toque a minha campainha e deixe eu abrir a porta e me surpreender com você. Venha com a barba feita, ou venha com a barba por fazer mesmo - mas não quero a lá Marcelo Camelo, ok? Ainda que ele seja o cara que melhor traduz os sentimentos em palavras, na minha opinião.
Venha de roupa de expediente, direto do trabalho, pra eu imaginar que você tenha passado o dia pensando em mim.
Quando eu abrir a porta, me pegue pela cintura, me envolva nos teus braços. Me abrace forte. Deixe eu sentir as batidas do seu coração num ritmo que se encaixe às minhas? 
Entre aqui, vamos conversar, deixe eu saber como foi o seu dia. Me conte do seu trabalho. Deixa eu te olhar enquanto você fala, te admirando... Até você ficar constrangido e se esconder por trás de um sorriso lindo encabulado.
E deixa eu imaginar tudo isso. Ainda que seja só minha a imaginação. 
E se você vier, não avise. Só venha.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Esteira da vida

E não importa quanto tempo tenha passado. Não importa quantos pós-amores vc já tenha vivido. O que importa é a sua vontade de fazer ser diferente e de começar de novo, outra vez e uma vez mais. Importa a sua vontade de apagar com uma borracha, de virar a página, de arrancar a folha, ou de trocar o livro mesmo.
A sua ferida não vai cicatrizar se você não parar de ‘cutucar’. Ela não vai sarar se você mexer e remexer aquilo ali. Talvez você tenha que respeitar o tempo que está tentando passar sem vc querer deixar. É como a esteira rolante do Congresso Nacional. Como se estivesse ligada para você caminhar e seguir lá pra frente, só que você segue na direção contrária, como se estivesse patinando sempre no mesmo lugar. Sem avançar e sem retroceder.
É uma escolha sua. Se você ficar parado, a vida passa. A esteira (da vida) não para. Se você caminha pra frente, você segue a vida em seu fluxo natural. Se você volta, a esteira não muda a direção só pra você. Só que a escolha é sua. E a minha esteira (da vida) não para. Nem eu.
 
"Teu mundo gira em falso.
Fica sem os pés no chão"
- Juliano Morbeck -

"O tempo não pára"
- Cazuza -

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Metade inteiro

Eu me apaixono fácil, mas me desapaixono com ainda mais facilidade. Pra mim importam as pequenas coisas, os pequenos gestos e cada detalhe que me faça te enxergar diferente. E você me mostrou os pequenos detalhes que me fizeram louca pra te ter pra mim. O seu jeito ríspido inicialmente me afastou e, ao mesmo tempo, me fez descobrir que lá no fundo, existia um coração mole dentro de você. A sua inteligência, seus interesses... E aí, um dia, o que a gente nem imaginava, aconteceu. Eu te senti tão perto de mim que eu não consegui evitar te ter. Só que o que sobrou agora, foi a saudade. Um saudade tão bonita que ainda permanece aqui. Eu não sei se você sentiu e viveu tudo na mesma intensidade que eu, eu não sei se pra você tudo teve a mesma importância. Mas não me arrependo por você ter aparecido na minha vida dessa forma, metade inteiro pra mim. Me mostrou que as oportunidades não podem ser deixadas e que vale a pena viver a intensidade, ainda que momentânea. Não fizemos promessa alguma, até porque a distância já é uma certeza grande demais. Além disso, o destino já te traçou um caminho e você já está lá na frente, enquanto eu te olho caminhar lá no horizonte. Só que, se eu posso te fazer um último pedido antes do destino traçar o meu caminho, eu vou dizer pra você vir aqui pra perto, pra olhar dentro do meu olho e dizer que tudo valeu a pena demais. Pra você estar ao meu lado novamente e lembrar que naquele momento nós fomos inteiros e eu queria me despedir dessa forma, de novo, porque você valeu a pena.

ps.: rascunho sem data. Encontrado em meio a tantos outros rabiscos.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

De repente

Eu não sei como foi que aconteceu e em que momento nossas vidas, que estavam tão interligadas, foram se afastando. Eu nem percebi que as coisas começaram a desandar e, de repente, todo aquele sentimento intenso e desesperador de querer estar junto e perto, se esvaía por entre a falta de comunicação que passou a existir entre nós. E uma pena que isso ficou mais evidente que a nossa saudade.

Eu não sei mesmo em que ponto as coisas tomaram rumo incerto, porque era tudo tão certo. Sabe aquele sentimento todo e também toda aquela promessa de querer fazer a nossa vida dar certo junto? Então, não sei onde foi que tudo isso se perdeu. Eu sei que a falta de ligações e a falta de notícias me fizeram descobrir um medo aqui dentro. E eu senti uma dor no peito que fazia com que eu não conseguisse continuar sem a nossa “rotina”.

Eu chorei tanto ontem. Quando eu deitei sem o seu “boa noite” e acompanhada do seu sumiço, eu nem senti mais medo de que alguma coisa ruim tivesse acontecido contigo, porque já se tornava tão normal que eu sabia que era por “vacilo” seu, como você mesmo dizia. Eu enfiei a cara no travesseiro e o encharquei, acreditando que toda mágoa seria extraída ali.

Mas eu acordei sem rumo ainda. E estou com o coração apertado por você não me deixar entender a sua realidade. Porque são tantas promessas, são tantas palavras bonitas que não tem jeito, eu sempre acredito. Mas se não for pra eu acreditar, se você já tiver se arrependido, me avisa? Avisa pra eu entender que o que passou foi só uma história bonita no começo mas com final de todo amor-que-foi-intenso-e-um-dia-acaba?

Faz assim, só fala pra mim o que o seu coração sente. Não precisa soltar palavras automáticas a cada ligação ou a cada mensagem. E, ah! Só mais uma coisa. Só apareça por aqui se você tiver certeza? Porque de incertezas eu já estou cheia de indícios. A porta da minha vida continua aberta pra você. Mas se já souber que não vai permanecer, faz assim, nem precisa entrar, porque eu não gosto de despedidas.

“Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
E eu vou sobreviver”

– Lulu Santos –