Um dia Clarice estava quieta, e eu perguntei o que havia.
Ela me respondeu que, por um instante, não entendeu o silêncio, porque "esperava fogos de artifício". Mas depois de um tempo ela se virou e disse: "- Esqueci que as estrelas não fazem barulho".
Seria uma comemoração? - Questionei silenciosamente para mim mesma.
De repente, acho que ela entendeu a minha silenciosa indagação e respondeu:
"- Tenho tal tendência à felicidade. Sinto-me esses últimos dias irradiante e radiosa por viver".
Que beleza! Que alegria contagiante. No mesmo momento me sentia como ela, irradiante. Lembrei-me de uma frase de Clarice que li um dia, dizia assim: "Que é que se consegue quando se fica feliz? O que vem depois?". O que eu não entendia, era o que ela questionou, se alí parecia não se importar com o depois. Pra mim importava. Eu queria, loucamente, saber o que vinha depois de tamanho sentimento de felicidade.
Mas ela não falou mais nada. Rabiscou ao final de uma folha em branco, como quem quisesse dizer que ainda faltava o mais importante de sua história. Virou-se e estava quase indo embora, quando perguntei o que lhe faltava, pois tamanha era a felicidade dela pela vida que me parecia estar completa. Sem titubiar, me respondeu com ar sereno:
"- Que Deus me ajude a conseguir o impossível, só o impossível me importa", mas "algo está sempre por acontecer". Não me importo, "o imprevisto me fascina".
Ela vivia pelo impossível. E ninguém imaginava que isso era possível.
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