sexta-feira, 13 de maio de 2011

Construção

Da janela do quarto, um barulho que me lembrou o arranjo da última estrofe da música escrita em dodecassílabos e rimas em proparoxítonas: Construção. É como o arranjo da última estrofe que ando acordando ultimamente, de um modo mais acelerado, com sons vindo de todos os lados, gerando uma confusão e um desnorteamento.

"Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego"

*Construção - Chico Buarque

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