Eu não vou me convencer de que a culpa não foi minha, porque na minha cabeça, de alguma forma, foi. Infelizmente ou felizmente, o meu pensamento se concretizou como o muro de Berlim, mas o que foi destruído mesmo, foi o meu sentimento.
Por todos os trilhos de pensamentos, acabo sempre na mesma trilha, a certeza de que eu poderia ter feito mais, assim como você. Confesso que me acomodei tanto com tudo que nem imaginava o quanto faltava para ser feliz. Imagine só, eu tinha certeza de que eu te fazia feliz na mesma proporção que eu acreditava estar feliz.
Me acomodei tanto que esqueci que além da nossa vida, cada um tinha uma também. Me esqueci que além de "nós" e "você" existia também: "eu". E por mais que agora eu conjugue todos os verbos em primeira pessoa do singular, por todo tempo eu conjuguei em primeira do plural ou no singular mesmo, mas na segunda pessoa.
Anulei todos os dias da minha semana, apenas esperando as quartas, sextas e os sábados, como se o ano tivesse apenas esses dias da semana estampados no calendário.
Ouvir a frase pronta "eu te amo" era suficiente para acalmar qualquer tempestade da minha vida, numa ânsia tão eufórica, que eu me esquecia de sentir o tom da voz para acreditar que eram palavras vindas do coração, sem nunca imaginar serem, depois, apenas ditas por força do hábito.
O beijo de boa noite era suficiente para a minha noite ser boa. Confesso que no começo eu sofri com a falta de abraços noturnos, as costas frias encostadas nas minhas e os cobertores separados, naquela cama tão grande que me deixava em uma ponta, enquanto você dormia em outra. Mas também sei que sofreu comigo existindo sem existir.
Eu construí, para mim, um relacionamento estável, o qual eu jamais esperava acabar. Mas fui surpreendida, assim como todas as pessoas ao redor que imaginavam que éramos um casal feliz, inclusive eu.
"There are places I remember all my life,
Though some have changed,
Some forever, not for better,
Though some have changed,
Some forever, not for better,
Some have gone and some remain"
- The Beatles -
Nenhum comentário:
Postar um comentário