Eu já nem sei quanto tempo se passou desde a última vez que
eu te vi pela última vez. Eu não lembro mais quando foi aquele dia que a gente
se encontrou ouvindo Beatles e passamos duas músicas grudados num abraço tão
apertado, sem dizer uma palavra, porque nem suspiro cabia ali. E foi bonito,
né? Mas eu não me lembro quanto tempo isso faz.
Depois disso, eu não lembro quando foi que eu decidi ficar
reclusa, quietinha no meu canto, pra não ir naqueles lugares que a gente sempre
frequentou e, inclusive, que foi cenário pra gente se conhecer. Eu evitei,
porque eu sabia que você não evitaria.
A verdade mesmo é que eu, me conhecendo como me desconheço,
sabia que eu não ia conseguir segurar aquele abraço apertado em silêncio, porque
nosso cheiro faz questão de se encontrar, né? Eu não ia conseguir só te ver de
longe, porque parece mesmo que a gente tem um ímã que, por mais que a gente
segure, de repente me vejo ali, agarrada no seu cheiro.
Demorou pra eu me fortalecer e conseguir sair do casulo.
Demorou mais tempo do que eu imaginei. Todo mundo me perguntava por onde eu
andava e nem eu sabia responder. Você fez aquela bagunça danada na minha vida,
mas aí, com o tempo, eu fui colocando tudo em ordem, no lugarzinho que eu
achava que cabiam as coisas.
Só que demora pra gente catalogar tudo, né? Separei uma
caixa enorme para as lembranças boas. Acho que é a maior de todas. Eu deixo
nela os momentos bons daquele tempo que a gente dividiu a vida numa casinha tão
pequena, que era só grude eu e tu. A caixa que eu reuni as mágoas, tristezas e
decepções, eu resolvi jogar no buraco que tem na fazenda da minha avó e
queimar. O fogo queimou tudinho e aquele monte de coisas todas virou pó. E eu
reuni tanto pedaço meu que ficou espalhado que eu consegui catalogar numa caixa
que eu etiquetei de amor-próprio. Incrivelmente, eu nunca tinha reparado o quão
bem essa caixa me faria com todos os estilhaços reunidos.
Enfim, peguei toda a bagunça que não me cabia mais e joguei
fora. Deixei só o que eu achei importante pra recomeçar. Nossa! Eu descobri que
a vida é leve e não aquele peso todo que eu carregava. Além disso, eu me dei
conta que minha vida tinha estado suspensa esse tempo todo. Agora, depois
desse tempo todo, cá estou eu pra agradecer toda a bagunça que você deixou que
me obrigou a me organizar todinha e descobrir o melhor de mim.
“Fiz de mim descanso pra você
Te decorei, te precisei
Tanto que esqueci de me querer
Testemunhei o fim do que era agora
Agora eu quero ir
Pra me reconhecer de volta
Pra me reaprender e me apreender de novo
Quero não desmanchar com teu sorriso bobo
Quero me refazer longe de você”
- Agora eu quero ir – AnaVitória -
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