segunda-feira, 9 de maio de 2011

Motivo


Eu nunca fui adepta a gêneros de palavras ao se tratar de profissões. Gosto mesmo de gêneros de palavras do mesmo radical. Essa história de ser poeta eu acho lindo. Mas alguns se atrevem em dizer que se eu for algo perto disso, a classificação correta seria "poetisa". Não. Poeta homem e poeta mulher tem o mesmo valor no meu dicionário. Bem como dentista homem e dentista mulher. Acho linda essa história de mesma nomenclatura. Pode mudar o gênero no final, não tem problema, como no caso do (a) médico (a). Agora esse negócio de poeta e poetisa pra mim não tem nenhuma poesia.

"Eu canto porque o instante existe 
e minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta!"
- Cecília Meirelles -

quinta-feira, 5 de maio de 2011

E...

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E você permanece em mim
O meu pensamento não te liberta
Os meus olhos não te deixam distanciar
E a saudade não deixa a sua imagem se apagar
É como o vento se colorir
É como o Sol não brilhar mais.
É impossível não te sentir,
Mesmo na tua ausência
É impossível não te querer,
Mesmo no meu silêncio
É impossível não pensar em você,
Mesmo não te esquecendo...


*Poema escrito por volta de 2004, sem data.

domingo, 17 de abril de 2011

A música é fotografia. O sentimento é negativo.


E todas as vezes em que eu encontrar alguém que me faça lembrar de você, eu vou lembrar,
Porque o sentimento existiu aqui dentro e por mais que eu tente, é difícil apagar.
Todas as vezes em que eu ouvir o som do seu nome, eu vou me virar para olhar,
Porque foi o nome que eu chamei por noites antes de me deitar.
Mas todas as vezes que eu senti o cheiro do seu perfume, eu parei e de você me lembrei,
Porque eu precisei, mas hoje, nem como era eu sei.

*encontrei em meio a cartas eletrônicas. Sem data, sem referência.


"E há sempre uma canção para contar
Aquela velha historia, de um desejo"

- Tom Jobim -

sábado, 16 de abril de 2011

Só agora eu vi


Eu não sei você, mas antes de tudo isso, eu tinha um sonho. E antes do sonho, eu tinha uma vida.
Pode até ser que naquela época eu tenha escolhido a maneira mais difícil, complicada e demorada de alcançá-lo, mas foi a minha escolha. Escolha que hoje já perdeu o sentido...
Estranho isso, porque na minha essência não tinha essa fragrância, nem nada que lembrasse isso: perder o sentido. Mas o tempo passou e eu não sei como, mas eu deixei ele passar, sem fazer absolutamente nada. Eu não fiz absolutamente nada ao ver a vida que eu tinha mudando tão radicalmente. Também não fiz nada ao ver o sonho que eu tinha tanta certeza em alcançar, ser apagado lentamente da minha lista de objetivos. Eu perdi o sentido. E nem percebi. Só agora eu vi.

"Mas o pior não é não conseguir
É desistir de tentar"

- Vanessa da Mata -

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Receita


A minha medida sempre foi o amor. Ou o derivado dele. Uma pitada de amor nos estudos, uma dose de amor no trabalho e uma medida no relacionamento. Ah, na família, tantos e tantos quilos. Acontece que eu nunca havia reparado.
Imagine! Eu nunca acertei fazer uma receita que não tivesse, entre os seus ingredientes principais, o amor. Não sei porque, mas sempre preferi as receitas mais doces, com sabores mais suaves e apresentação mais encantadora. De todas as receitas que já experimentei na minha vida, as preferidas foram aquelas que continham os derivados do amor: a compreensão, o carinho, o afeto, a paciência, o respeito, a felicidade e tantos outros.
Mas é claro que, como tudo na vida, houveram épocas em que alguns ingredientes não eram encontrados. A época em que compreensão não era encontrada, faltava também a sintonia e a receita não saia como antes. Quando faltavam o carinho e o afeto, a receita ficava crua, nunca terminava de assar. Sem o respeito, não era possível começar a receita, pois era o ingrediente essencial. 
Com isso eu descobri que era dependente do amor. E o descobri isso sem querer, em um experimento entre a razão e a paixão louca, na tentativa de uma química qualquer. E nunca mais deixei de experimentar, ainda que cada química tenha uma reação, eu continuo tentando uma fórmula...

"Será, que será?
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho..."

- Chico Buarque -

terça-feira, 12 de abril de 2011

Em um certo dia


Maria era criança quando ele a conheceu
Passou o tempo e ela cresceu
Mas antes, ele desapareceu
Foi embora, mas nunca a esqueceu

Um dia ele a procurou
Depois de algum tempo, a encontrou
Um com o outro conversou
E naquele momento o tempo parou

Depois disso, conversavam todo dia
E também se encontravam quando um queria
Não demorou muito e ele a namorou
Ela também, e dele já gostou

Porém, algumas vezes ele sumia
Ela tentava, mas não entendia
Depois de um tempo ele reaparecia
E não tinha jeito, ela outra vez se derretia

Mas tudo aconteceu diferente em um certo dia...

"De hoje em diante eu vou modificar o meu modo de vida
Naquele instante em que você partiu..."

- Caetano Veloso -

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Esquecimento


Maria estava quieta, num canto, sozinha, chorando.
Um rapaz se aproximou. Se apresentou.
Era Lucas, que chegou lhe questionando:
"- Por que as lágrimas assim, tão sofridas?"


Se conheceram. Tiveram de se despedir.
Se falavam constantemente. Um com o outro, loucamente.
Prometeram se encontrar, novamente.
Mas algo fez Lucas desistir de repente. Nada adiantava Maria pedir.


Outro dia se encontraram, conversaram.
Era uma história linda, vivida no desejo e da memória apagada.
Porém, nunca mais tocaram no assunto. Era agora uma página arrancada.


"saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento"
- Chico Buarque -

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Conversa com Clarice


Um dia Clarice estava quieta, e eu perguntei o que havia.
Ela me respondeu que, por um instante, não entendeu o silêncio, porque "esperava fogos de artifício". Mas depois de um tempo ela se virou e disse: "- Esqueci que as estrelas não fazem barulho".
Seria uma comemoração? - Questionei silenciosamente para mim mesma.
De repente, acho que ela entendeu a minha silenciosa indagação e respondeu:
"- Tenho tal tendência à felicidade. Sinto-me esses últimos dias irradiante e radiosa por viver".
Que beleza! Que alegria contagiante. No mesmo momento me sentia como ela, irradiante. Lembrei-me de uma frase de Clarice que li um dia, dizia assim: "Que é que se consegue quando se fica feliz? O que vem depois?". O que eu não entendia, era o que ela questionou, se alí parecia não se importar com o depois. Pra mim importava. Eu queria, loucamente, saber o que vinha depois de tamanho sentimento de felicidade.
Mas ela não falou mais nada. Rabiscou ao final de uma folha em branco, como quem quisesse dizer que ainda faltava o mais importante de sua história. Virou-se e estava quase indo embora, quando perguntei o que lhe faltava, pois tamanha era a felicidade dela pela vida que me parecia estar completa. Sem titubiar, me respondeu com ar sereno:
"- Que Deus me ajude a conseguir o impossível, só o impossível me importa", mas "algo está sempre por acontecer". Não me importo, "o imprevisto me fascina".

Ela vivia pelo impossível. E ninguém imaginava que isso era possível.