domingo, 19 de abril de 2020

Série: Covid-19


O ano é 2020. O vírus se chama "covid-19", o "novo coronavírus". 

O mundo existia normalmente. Até que tudo começou. As pessoas foram se contaminando muito rápido. Virou uma epidemia. Tinham muitos casos na China. Continuou se espalhando muito rápido e a Organização Mundial da Saúde declarou pandemia. Os jornais só noticiavam o aumento do número de contaminados, a falta de leitos de UTI, a falta de respiradores e o aumento do número de mortes. De repente o mundo parou. As pessoas tiveram que se isolar em casa, pra evitar ainda mais a disseminação do vírus. Ninguém mais pode se abraçar. Começou o "distanciamento social". As ruas esvaziaram. Os vôos foram cancelados. O comércio fechou. As prateleiras dos mercados também. Nas farmácias não havia mais álcool, luvas ou máscaras, porque o mundo inteiro precisava desses insumos. Países entraram em colapso. O cotidiano desacelerou. O mundo acelerou junto para combater o vírus. 


"And when all the broken hearted people
Living in the world agree
There will be an answer
Let it be
For though they may be parted there is
Still a chance that they will see
There will be an answer"

- Let it be - The Beatles -

Blackbird

Eu quadrada. Ele sem forma.
Eu raiz. Ele folha solta.
.
Eu lagoa. Ele rio.
Eu aqui. Ele agora.
.
Eu sonho. Ele realiza.
.
Eu medo. 
Ele mundo. . .



"Blackbird singing in the dead of nightTake these sunken eyes and learn to seeAll your lifeYou were only waiting for this moment to br free"- Backbird - The Beatles -


domingo, 2 de dezembro de 2018

Eu já...



Já senti saudade e abafei. Já senti o peito apertar por isso. Já segurei a lágrima que isso causou e também já rezei pra esquecer tudo isso.
Já guardei lembranças querendo nunca mais lembrar. Já esqueci outras as quais eu não queria apagar.
Já corri atrás e arrependi. Já desisti e me rendi. Eu já me orgulhei porque perdi e já me martirizei porque insisti.
Já... e continuo. Porque vivi... e continuo. 

sábado, 29 de julho de 2017

Encontros e desencontros (passados)


Quando eu abri o email e vi o assunto "Encontros, desencontros...", eu já sabia que não ia terminar tão bem. Quando eu te conheci, o seu status do Whatsapp era "Encontros, desencontros, reencontros... essa é a vida".


Ainda que a frase do seu status não fosse pra mim, antes mesmo de abrir o email eu sabia que a frase do assunto era. E eu temi ter que passar para a fase do "desencontro". Era isso mesmo?


Eu deveria estar feliz por você, né? Deveria ter orgulho da sua história, das suas virtudes, da sua sinceridade comigo. E tenho tudo isso, garanto! Só que o sentimento que me sobressai agora, nesse momento, infelizmente não é esse. E, assim como você, sou sincera.


Eu senti dor. Por mais egoísta que possa parecer da minha parte, o meu peito apertou, meu coração disparou e alguma água salgada escorreu dos meus olhos. Mas, que eu pense, não que fosse egoísmo, porque, querendo ou não, eu faço parte de um pedaço, ainda que coadjuvante, da (nossa) história.


Eu li e consegui reler, ainda. Eu precisava acreditar. Mas eu acredito tanto em você que não tinha como não ser. Mas eu senti tanta dor por isso, porque era tudo tão bonito.... E desde o começo, por mais que você tenha escrito que está confuso e que precisa entender o seu coração, eu já sabia, e sei, pra onde aponta a sua bússola. A gente já se conhece tão bem que, mesmo você dizendo que está sem norte, eu sei exatamente o norte que a sua bússola aponta. 


Sermos bons com as palavras nos faz assim, conhecedores delas. Ainda que nem nas entrelinhas esteja, a gente lê e sabe o significado que aquelas letras carregam. Mais ainda, a gente sabe o sentimento exato que esvaem delas.


Acho que você vai ser uma lembrança bonita pra mim, daquelas que foram tão importantes que a gente nem sabe porque ficou só na lembrança. Você foi tão importante pra mim que eu nem sei se um dia vai deixar de ser. Foi um amor que eu não tive. Sim, um amor que acabou sem eu nem conseguir ter. Você foi um amor daqueles do tipo "primeiro amor": cheio de ilusões, promessas e desesperos. 


E eu prometi, não prometi? Dei a minha palavra de escoteira (ainda que você insista em acreditar que é de lobinha) que eu ia guardar um pedacinho do meu coração pra você. Hoje, depois de tudo, eu acho que foi até um pouco egoísta da sua parte fazer esse pedido, mas saiba que, mesmo se eu resistisse, eu não conseguiria. 


Você foi aquele amor que eu nunca achei que eu fosse ter na vida, sabe? Aquele amor que a gente acha que é de mentira, que só existe em histórias românticas de livros ou filmes. Então. Você existiu assim pra mim. Foi um história tão bonita na minha vida que eu duvidei que fosse real. Mas você me disse que era real (até demais) e eu acredito. Eu vou guardar, com carinho, todo o sentimento bonito que eu cultivei por você. Vou guardar todo o amor que existiu aqui dentro por você. Vou guardar todos os nossos anseios e desesperos por encontros, abraços, beijos e olhares...


Eu vou guardar cada palavra bonita que a gente trocou (e a simplicidade com que a gente passa isso tão bem para o papel) - uma das nossas coincidências mais expressivas. Vou sentir falta do seu "bom dia" matinal, o que fazia com que, realmente, o meu dia fosse bom. Vou sentir falta das fotos de "agora agora" e do "boa noite" diário, seguido do "combinado".


Eu vou sentir falta dos sábados acompanhados de bolo de morango. De notificações diárias no meu celular. De receber de surpresa um email com um arquivo de áudio anexado. De me surpreender sempre com você. 


Eu vou sentir falta de você, da forma com que eu desejei pra minha vida. E eu te desejei tanto. Foi tão bonito o sentimento que eu guardei aqui pra você. E foi real. Por mais louca que seja a história, por mais absurda que seja, por mais inesperada e duvidosa, ela existiu e foi uma das mais bonitas e sinceras que eu já vi na vida. Acho que qualquer um duvidaria. E eu dizia: "que sorte a minha", e você me rebatia: "que sorte a nossa". Que pena que a gente errou.


Eu vou agora seguir com uma saudade de quem foi, mas que me prometeu "permanecer". Se você for embora pra sempre, me manda um adeus daqueles bonitos de filme, pra gente tentar fechar esse ciclo? Porque, por mais que eu não queria, meu coração vai esperar, achando que no final da tempestade vai ter um arco-íris com um pote de ouro no final. 


É que, pra você, a história continua. Pra mim, enfim... Sobrou aqui em mim um vazio, um eco de você. E vontade de você também, como eu dizia repetidas vezes e você achava graça. Lembra da minha vontade de caber inteira nos seus abraços? Pois é. Eu lamento tanto não sentir isso. E ah, lamento também não ser uma exclamação no final de um "eu te amo" na sua vida.


Fica bem. Não fica "triste" não. Eu quero ser motivo de felicidade pra você. E eu te quero tão bem que eu desejo do fundo do coração que você seja feliz. Tanto.


Amanhã é quarta-feira. E eu esperei tanto por ela. Você vem? Embarca num avião e bate aqui na minha porta, só pra eu não ficar pensando que foi tudo ilusão, que foi tudo em vão, que foram palavras soltas e histórias de ficção... Me faz acreditar que no fundo, no fundo, existiu amor. Que existiu sinceridade, cumplicidade e reciprocidade.


Ei, você fica tão bonito sorrindo...

Abre um sorriso pra mim hoje, vai?


*Rascunho encontrado entre os arquivos de 2010 e 2013.



quarta-feira, 19 de julho de 2017

Longe de você



Eu já nem sei quanto tempo se passou desde a última vez que eu te vi pela última vez. Eu não lembro mais quando foi aquele dia que a gente se encontrou ouvindo Beatles e passamos duas músicas grudados num abraço tão apertado, sem dizer uma palavra, porque nem suspiro cabia ali. E foi bonito, né? Mas eu não me lembro quanto tempo isso faz.

Depois disso, eu não lembro quando foi que eu decidi ficar reclusa, quietinha no meu canto, pra não ir naqueles lugares que a gente sempre frequentou e, inclusive, que foi cenário pra gente se conhecer. Eu evitei, porque eu sabia que você não evitaria.

A verdade mesmo é que eu, me conhecendo como me desconheço, sabia que eu não ia conseguir segurar aquele abraço apertado em silêncio, porque nosso cheiro faz questão de se encontrar, né? Eu não ia conseguir só te ver de longe, porque parece mesmo que a gente tem um ímã que, por mais que a gente segure, de repente me vejo ali, agarrada no seu cheiro.

Demorou pra eu me fortalecer e conseguir sair do casulo. Demorou mais tempo do que eu imaginei. Todo mundo me perguntava por onde eu andava e nem eu sabia responder. Você fez aquela bagunça danada na minha vida, mas aí, com o tempo, eu fui colocando tudo em ordem, no lugarzinho que eu achava que cabiam as coisas.

Só que demora pra gente catalogar tudo, né? Separei uma caixa enorme para as lembranças boas. Acho que é a maior de todas. Eu deixo nela os momentos bons daquele tempo que a gente dividiu a vida numa casinha tão pequena, que era só grude eu e tu. A caixa que eu reuni as mágoas, tristezas e decepções, eu resolvi jogar no buraco que tem na fazenda da minha avó e queimar. O fogo queimou tudinho e aquele monte de coisas todas virou pó. E eu reuni tanto pedaço meu que ficou espalhado que eu consegui catalogar numa caixa que eu etiquetei de amor-próprio. Incrivelmente, eu nunca tinha reparado o quão bem essa caixa me faria com todos os estilhaços reunidos.

Enfim, peguei toda a bagunça que não me cabia mais e joguei fora. Deixei só o que eu achei importante pra recomeçar. Nossa! Eu descobri que a vida é leve e não aquele peso todo que eu carregava. Além disso, eu me dei conta que minha vida tinha estado suspensa esse tempo todo. Agora, depois desse tempo todo, cá estou eu pra agradecer toda a bagunça que você deixou que me obrigou a me organizar todinha e descobrir o melhor de mim.

“Fiz de mim descanso pra você

Te decorei, te precisei
Tanto que esqueci de me querer
Testemunhei o fim do que era agora
Agora eu quero ir
Pra me reconhecer de volta
Pra me reaprender e me apreender de novo
Quero não desmanchar com teu sorriso bobo
Quero me refazer longe de você”


- Agora eu quero ir – AnaVitória -

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Seja livre pra eu ser livre



E eu estava indo tão bem. Nem as tuas fotos me causavam aquela angústia mais. Aquele desespero que você viu no dia que a gente decidiu que não dava mais, nunca mais tinha se repetido.
Mas isso foi porque eu evitei a vida. Eu evitei tantas lembranças... E o que é a vida senão um contexto de lembranças?
Eu a suspendi de forma que eu via os acontecimentos passando por mim, bem ali, como se eu fosse mera expectadora da minha própria vida. E deixei de fazer as coisas que eu gostava, porque tudo o que eu gostava eu dividi com você. Deixei de ir nos lugares que eu ia, porque foi num desses que eu cruzei a primeira vez com você. Eu deixei de lembrar. Eu deixei de pensar. Eu entrei num buraco meu que nem eu admito. Só que a vida não pára pra gente recuperar o fôlego.
Demorou pra eu poder abrir o rolo da câmera de fotos do meu celular sem receio de encontrar alguma foto nossa que me remetesse à lembrança de completude que eu receio em admitir que passei contigo. Demorou pra eu conseguir apagar o seu número da minha agenda, mesmo tendo a certeza que eu jamais te ligaria ou receberia uma chamada sua (somos iguais, né?). Demorou pra eu dormir sem chorar de aperto no peito, tamanho o aperto. E demorou pra eu acordar sem te ter como primeiro pensamento do dia e tentar me conformar com o fim. Eu disse que demorou... não que passou.
Não passou a falta quase que diária, a saudade, as lembranças, o medo de ser fraca, a insegurança de não poder recorrer a você quando eu penso que só você me acalma, o dó de não ter dado certo e os inúmeros sentimentos que eu fico guardando aqui dentro e me geram essa angústia que, de repente, explode aqui dentro e faz essa bagunça toda em mim.
Seja livre pra me deixar ser livre. Não me faça chegar notícias suas, eu já tenho evitado tanto a vida pra isso. Deixa eu conseguir recuperar meu fôlego pra continuar? E faz assim, não pergunte mais de mim, eu não te interesso mais.  



"Não é fácil não pensar em você
Não é fácil
É estranho não te contar meus planos
Não te encontrar"
- Não é Fácil - Marisa Monte -

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Na minha teoria, o idêntico é artificial



A mania de achar que todo mundo tem que ser igual pra se relacionar pra mim não tem qualquer sentido. A gente era diferente? Sim, claro! E a gente era igual? Em algumas coisas, como todo mundo. Ninguém é igual ao outro na totalidade do ser. E a gente era assim, uma mistura de quase todo diferente para uma proporção de um pouco igual.

Sabe o que diferencia? A disposição. E eu sempre estive disposta pra você. Mas eu tinha a impressão de que você só se apegava às nossas diferenças, ressaltando-as o tempo todo. Sim, éramos diferentes em quase tudo, mas naquele pouquinho que sobra da conta do quase nada, éramos bem iguais.

Tínhamos as mesmas aspirações de vida, o mesmo carinho um com o outro, o mesmo desejo de ficar junto e o mesmo amor. Mas aí é que tá… às vezes você se esquecia dessa parte pequena de semelhança que a gente carregava, de tão pequena… E nas brigas e discussões, você sempre expressava a sua certeza de não darmos certo pelo fato de não sermos tão iguais, esquecendo qualquer parte da disposição de fazer dar certo.

Então, tomara que você encontre uma pessoa tão igual a você. Desejo isso porque você acredita nisso. Já eu? Fico aqui e continuo com a minha teoria de que a metade direita da laranja não é idêntica à metade esquerda, até porque, se fosse, não se encaixaria. Na minha teoria, o idêntico é artificial.


"Metade de mim agora é assim
De um lado a poesia, o verbo e a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar ao fim
E o fim é belo incerto, depende de como você vê"
- O anjo mais velho - O Teatro Mágico -


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Borracha

Resultado de imagem para apagar coração

Sabe quando a gente passa a borracha várias vezes no mesmo lugar e o papel ali vai ficando gasto, bem fininho? E aquelas marcas escritas que a gente tenta apagar com a borracha não somem, ficam ali, com marcas fundas no papel? Então. Foi mais ou menos assim, eu acho.

A gente escreveu vários capítulos nossos. Uns bonitos, outros ainda mais maravilhosos. Só que tiveram alguns não tão bons assim e toda vez que a gente tinha um capítulo não tão bom, a gente passava a borracha, mas sempre ficava uma marca, por mais que a gente tentasse, por tudo, apagar.

Então, ainda que quem olhasse não visse nada, de perto tinham as marcas fundas no papel. E hoje eu sei que cada uma das marcas é cada um dos finais, até chegar nesse, que parece realmente o fim.

Engraçado que todo final foi você quem escolheu. Não que eu tenha suprido as minhas vontades com o silêncio ou a falta de atitude de eu mesma por um fim, mas eu sempre fui assim, de esperar ter certeza pra não ter que escrever em cima da marca do fim. 

Na verdade, eu gosto mesmo de papéis limpos, em branco e novos. Sou meio avessa ao uso de borrachas e liquid papers. Se preciso for, passo um risco, mas costumo deixar o erro ali visível e não ter que camuflar; pra ver e lembrar que não posso mais errar daquele jeito.

Mas cada um faz do seu jeito, né? E eu aceitei alguns términos seus, sempre com a mesma justificativa. Mas essa eu sei que o papel já está quase rasgando de tanta borracha passada, de tão fino que está.

E eu não consigo mais escrever por cima, porque tenho que tomar tanto cuidado pra não rasgar o papel que eu não consigo mais escrever sem pesar a mão, sem ter traços firmes e sem ser eu mesma. Aí, sem a minha essência, acabo deixando de ser eu, o que pra mim não vale.

Então eu fico aqui, onde você me deixou e com um papel sem rasuras, mas fino de tanto passar a borracha. Escrita uma história tão bacana e que era tão diferente, que tinha tudo pra não dar certo, mas deu. Até o papel rasgar.


"Somethimes it lasts in love, but somethimes it hurts instead
Nothing compares, no worries or cares
Regrets and mistakes they´re memories made
Who would have known how bitter sweet this would taste"
- Someone like you - Adele -

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Acalma seu coração pra eu conseguir acalmar o meu?



Eu tô com o coração doendo. Perdi o sossego e tô transbordando aflição. 

Sabe aquela teoria de que a gente só machuca quem a gente gosta? Então, me desculpe. Não que justifique, mas tente me entender. Eu já te entendi tantas vezes. Acalma seu coração pra eu conseguir acalmar o meu?

O que eu tenho agora são as lembranças que me remetem puramente à saudade. Saudade da primeira vez que eu senti seu cheiro bem de perto, saudade dos seus abraços que me acalmavam quando eu ficava nervosa e que afagavam a minha saudade quando você chegava em casa de volta do trabalho. Saudade das noites que a gente dormiu tão grudado que a gente se confundia com o cobertor e acordava de rosto colado.

A gente já errou outras vezes e tudo deu certo. E por isso nos tornamos melhores a cada vez. Deixa eu te mostrar o quanto eu estou disposta agora? Não que antes eu não estivesse, eu sempre estive, mas depois de ficar esses dias sem você eu sei que o que me faz falta é estar bem com você.


"E agora, o que eu vou fazer?
Se os seus lábios ainda estão molhando os lábios meus?
E as lágrimas não secaram com o sol que fez?"
- N - Nando Reis -

segunda-feira, 18 de julho de 2016

O mundo vai girando, a gente espera do mundo e o mundo espera de nós


Desde o último post eu estou carregada de sentimentos sentidos, não sentidos, sensurados... Eu sinto que tem um turbilhão de coisas acontecendo ao mesmo tempo e nesse mesmo tempo, parece-me que fui atingida por um tsunami de calmaria e silêncio. Antes era desespero e ansiedade que me faziam cortar os dias do calendário. Hoje o que me marca é o tédio e a indecisão.
O objetivo era voltar pra casa, com o coração carregado de carência e saudade. Depois, seguia a vida com tudo o que eu tinha especificado na caderneta ao lado daqueles objetivos de anos atrás, os quais eu já havia ticado como cumpridos. Hoje o que eu tenho é uma nova folha, totalmente em branco e sem conseguir, sequer, fazer um rascunho de desejo, meta e idealização. Um vazio só.
Antes o vazio me acolhia, eu me sentia confortável dentro daquele espaço de silêncio que ecoava o barulho da minha respiração. Agora esse vazio me amendronta, porque tudo o que ecoa é nada.
A cabeça cheia de turbilhões de ideias que me moviam, hoje me prendem. Me falta coragem pra acreditar em recomeços depois do fim. Eu já recomecei sei lá quantas mil vezes, mas seja lá qual seja essa milésima primeira vez, está me dando mais trabalho, porque a consciência que me habita hoje não é a mesma. É como se as coisas perdessem o tesão depois de experimentadas, como se aquele salto de paraquedas tivesse acontecido e pronto. Depois vem a cobrança pela evolução. Então, mesmo se eu tiver coragem de saltar novamente, o mundo só vai entender se vier seguido de um duplo twist carpado, ou algo assim. E eu?


"O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
Será que é tempo que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber? A vida é tão rara. Tão rara
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para. A vida não para não"
- Paciência - Lenini

sábado, 9 de janeiro de 2016

Extremos e meio termos

Eu tô sentindo o peso da responsabilidade nas minhas costas. Ele aparece também nas marcas de expressão que eu coleciono no meu rosto. Também no olhar cansado que eu carrego hoje em dia. Esse peso está chegando junto com a consciência de que a vida não se vive apenas e tão somente por si só, sem planos, sem delimitações e sem traçados, por mais que a gente queira. Chega uma hora que a gente sente que tudo vai mais além do que a gente acha; que depois da curva ainda tem mais uma longa estrada e que depois da tempestade ainda tem sol e chuva outra vez.
Ser sozinha dói. Ser acompanhada também dói. Ficar só dói. Ficar junto também dói. Muita gente dá trabalho, pouca gente também dá. Família complica um pouco as coisas, mas também é a base de todas as coisas. Paixão atrapalha um pouco, desfoca. Mas a falta dela também não foca. Balada ajuda a esquecer problemas. Silêncio, às vezes, também. Olhos cheios de lágrimas limpam dores. Secos, doem, precisam de colírio.
Eu, que sempre fui tão acostumada com os extremos, vou agora aprendendo a lidar com meio termos. Eu vou tentando pegar a saudade que eu sinto e dividir em pequenas frações pra distribuir durante o dia todo, porque se eu sentí-la toda de uma só vez, acho que não aguento. E da mesma forma, eu aposentei o colírio, porque não preciso mais de lubrificantes oculares artificiais. Minha demanda natural já anda sendo o suficiente... até mais que isso, eu diria. E, por ora, vou preferindo o coração vazio daquela paixão ardente que todo mundo deseja ter um dia. Por enquanto ando evitando qualquer risco que possa não me fazer bem, viver já tem sido arriscado demais.

"Hey, mãe, alguma coisa ficou pra trás
Antigamente eu sabia, exatamente, o que fazer [...]
Hey, mãe, já não esquento a cabeça
Durante muito tempo isso era só o que eu podia fazer
Mas, hey, mãe, por mais que a gente cresça
Há sempre alguma coisa que a gente não consegue entender
Por isso, mãe, só me acorda quando o sol tiver se posto
Eu não quero ver meu rosto antes de anoitecer
Pois agora lá fora o mundo todo é uma ilha
Há milhas e milhas e milhas de qualquer lugar"
- Terra de Gigantes - EngHaw -