domingo, 17 de abril de 2011

A música é fotografia. O sentimento é negativo.


E todas as vezes em que eu encontrar alguém que me faça lembrar de você, eu vou lembrar,
Porque o sentimento existiu aqui dentro e por mais que eu tente, é difícil apagar.
Todas as vezes em que eu ouvir o som do seu nome, eu vou me virar para olhar,
Porque foi o nome que eu chamei por noites antes de me deitar.
Mas todas as vezes que eu senti o cheiro do seu perfume, eu parei e de você me lembrei,
Porque eu precisei, mas hoje, nem como era eu sei.

*encontrei em meio a cartas eletrônicas. Sem data, sem referência.


"E há sempre uma canção para contar
Aquela velha historia, de um desejo"

- Tom Jobim -

sábado, 16 de abril de 2011

Só agora eu vi


Eu não sei você, mas antes de tudo isso, eu tinha um sonho. E antes do sonho, eu tinha uma vida.
Pode até ser que naquela época eu tenha escolhido a maneira mais difícil, complicada e demorada de alcançá-lo, mas foi a minha escolha. Escolha que hoje já perdeu o sentido...
Estranho isso, porque na minha essência não tinha essa fragrância, nem nada que lembrasse isso: perder o sentido. Mas o tempo passou e eu não sei como, mas eu deixei ele passar, sem fazer absolutamente nada. Eu não fiz absolutamente nada ao ver a vida que eu tinha mudando tão radicalmente. Também não fiz nada ao ver o sonho que eu tinha tanta certeza em alcançar, ser apagado lentamente da minha lista de objetivos. Eu perdi o sentido. E nem percebi. Só agora eu vi.

"Mas o pior não é não conseguir
É desistir de tentar"

- Vanessa da Mata -

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Receita


A minha medida sempre foi o amor. Ou o derivado dele. Uma pitada de amor nos estudos, uma dose de amor no trabalho e uma medida no relacionamento. Ah, na família, tantos e tantos quilos. Acontece que eu nunca havia reparado.
Imagine! Eu nunca acertei fazer uma receita que não tivesse, entre os seus ingredientes principais, o amor. Não sei porque, mas sempre preferi as receitas mais doces, com sabores mais suaves e apresentação mais encantadora. De todas as receitas que já experimentei na minha vida, as preferidas foram aquelas que continham os derivados do amor: a compreensão, o carinho, o afeto, a paciência, o respeito, a felicidade e tantos outros.
Mas é claro que, como tudo na vida, houveram épocas em que alguns ingredientes não eram encontrados. A época em que compreensão não era encontrada, faltava também a sintonia e a receita não saia como antes. Quando faltavam o carinho e o afeto, a receita ficava crua, nunca terminava de assar. Sem o respeito, não era possível começar a receita, pois era o ingrediente essencial. 
Com isso eu descobri que era dependente do amor. E o descobri isso sem querer, em um experimento entre a razão e a paixão louca, na tentativa de uma química qualquer. E nunca mais deixei de experimentar, ainda que cada química tenha uma reação, eu continuo tentando uma fórmula...

"Será, que será?
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho..."

- Chico Buarque -

terça-feira, 12 de abril de 2011

Em um certo dia


Maria era criança quando ele a conheceu
Passou o tempo e ela cresceu
Mas antes, ele desapareceu
Foi embora, mas nunca a esqueceu

Um dia ele a procurou
Depois de algum tempo, a encontrou
Um com o outro conversou
E naquele momento o tempo parou

Depois disso, conversavam todo dia
E também se encontravam quando um queria
Não demorou muito e ele a namorou
Ela também, e dele já gostou

Porém, algumas vezes ele sumia
Ela tentava, mas não entendia
Depois de um tempo ele reaparecia
E não tinha jeito, ela outra vez se derretia

Mas tudo aconteceu diferente em um certo dia...

"De hoje em diante eu vou modificar o meu modo de vida
Naquele instante em que você partiu..."

- Caetano Veloso -

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Esquecimento


Maria estava quieta, num canto, sozinha, chorando.
Um rapaz se aproximou. Se apresentou.
Era Lucas, que chegou lhe questionando:
"- Por que as lágrimas assim, tão sofridas?"


Se conheceram. Tiveram de se despedir.
Se falavam constantemente. Um com o outro, loucamente.
Prometeram se encontrar, novamente.
Mas algo fez Lucas desistir de repente. Nada adiantava Maria pedir.


Outro dia se encontraram, conversaram.
Era uma história linda, vivida no desejo e da memória apagada.
Porém, nunca mais tocaram no assunto. Era agora uma página arrancada.


"saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento"
- Chico Buarque -

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Conversa com Clarice


Um dia Clarice estava quieta, e eu perguntei o que havia.
Ela me respondeu que, por um instante, não entendeu o silêncio, porque "esperava fogos de artifício". Mas depois de um tempo ela se virou e disse: "- Esqueci que as estrelas não fazem barulho".
Seria uma comemoração? - Questionei silenciosamente para mim mesma.
De repente, acho que ela entendeu a minha silenciosa indagação e respondeu:
"- Tenho tal tendência à felicidade. Sinto-me esses últimos dias irradiante e radiosa por viver".
Que beleza! Que alegria contagiante. No mesmo momento me sentia como ela, irradiante. Lembrei-me de uma frase de Clarice que li um dia, dizia assim: "Que é que se consegue quando se fica feliz? O que vem depois?". O que eu não entendia, era o que ela questionou, se alí parecia não se importar com o depois. Pra mim importava. Eu queria, loucamente, saber o que vinha depois de tamanho sentimento de felicidade.
Mas ela não falou mais nada. Rabiscou ao final de uma folha em branco, como quem quisesse dizer que ainda faltava o mais importante de sua história. Virou-se e estava quase indo embora, quando perguntei o que lhe faltava, pois tamanha era a felicidade dela pela vida que me parecia estar completa. Sem titubiar, me respondeu com ar sereno:
"- Que Deus me ajude a conseguir o impossível, só o impossível me importa", mas "algo está sempre por acontecer". Não me importo, "o imprevisto me fascina".

Ela vivia pelo impossível. E ninguém imaginava que isso era possível.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ela não conhecia



Luciana não conhecia o amor. Nunca havia se apaixonado.
Gabriel foi sempre um sofredor, tudo culpa do bendito amor.
Um dia, sentado num bar, Luciana chegou ao seu lado.
Conversaram fiado. Gabriel estava desolado. Seu casamento havia acabado.
Beberam, se apresentaram, conversaram e se conheceram.


Depois da noite, o dia raiou. Luciana acordou. Na mesma hora, foi embora. 
Gabriel se assustou. E, como esperado, por ela se apaixonou.


A história continuou...


Gabriel outra vez se casou. Luciana se apaixonou.
Ela, um dia, curou a sua dor. Em troca, ele mostrou a ela o amor.


"Às vezes o que a gente procura não é o que a gente procura, e sim o que a gente encontra" 
- Chico Buarque -

domingo, 23 de janeiro de 2011

Poema em movimento



Antônio se apaixonou. Letícia também. Um pelo outro. Ainda bem.
Ele vivia por ela. Ela vivia feliz. Viviam a vida por um triz.
Viveram uma linda ''estória'' de amor. Puro fervor.
Com um pouco de rancor, Antônio quis conversar. Letícia, responsável, teve que recusar. Foi trabalhar.
Ao retornar, encontrou a casa quase vazia, uma melancolia.
Antônio nada dizia. Saiu pela vida vazia. E deixou pingando a pia.
Letícia chorou. Antônio nunca retornou. A vida, sozinhos, cada um trilhou.
Um sempre o outro amou. Assim continuou. Mas ninguém nunca contou.

E então, numa conversa entre amigos, Antônio perguntou:
- E você, já encontrou o seu poema?
- Como assim, que poema?
- Poema cara, como aquele que um dia eu tive...

Outra pessoa questionou:
- Poema? Como assim, poema? Por quê, poema?

Eu lhe explico:
- Poema, aquele balanço gostoso, suave e com o sentimento sutil... Mas depende da ótica que você vê. 
Pode ser aquele poema bacana, que te deixa bacana. Ou pode ser aquele poema belo, tão belo que deixa o amor parecer um poema em movimento.

"O amor, quando acaba, demora um pouco pra desocupar a casa" - Chico Buarque

Obs.: Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Go ahead


Algumas vezes desistir é necessário. Tanto a ponto de desfigurar totalmente da imagem de fraqueza, armazenada desde sempre na memória.
Escolher acaba sendo inevitável. Tanto a ponto de não ser luxo nem ato de vontade.
Abrir mão de certas coisas, pode chegar a ser essencial. Tanto a ponto de chegar quase ao fim da linha.
Tempestades em alto mar são constantes, necessário é aprender a navegar. Sobrevivência deixa de ser necessidade humana e torna-se virtude.
Aprender a navegar é uma arte, é como traçar a trilha da vida sem se perder no caminho: inevitável.
E quando não dá certo, recomeçar é o mais difícil. É complicado 're'fazer, 're'começar, 're'aprender... Mas se a gente já conseguiu uma vez, vamos lá, uma vez mais... outra, se necessário for.
Quem disse que a pedra se partiu em duas com apenas uma pedrada? Hã-hã. Foi a última pedrada que a fez partir, mas foram necessárias muitas outras antes para que isso acontecesse. Não olhe o imediato. Quando vir um resultado, analise o esforço anterior, a dedicação, a disciplina, a fé, a coragem e acredite, analise também a sorte. Ela não funciona sozinha, mas somada a tudo isso, faz uma grande diferença.
Tenha em mente também que desistir pode ser fácil, mas continuar lutando é ainda mais digno.
Lembre-se sempre que depois da tempestade vem sempre o arco-íris e o Sol volta a brilhar novamente.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

- "Vai, Maria, siga a vida toda essa mesma vida"



Maria tinha medo da vida. 
Tinha medo do certo, do incerto e das certezas. 
Tinha medo dos encontros, desencontros e desafios. 
Maria tinha medo até da certeza mais exata.

De tudo, o medo nunca passou. Maria nunca arriscou.
A vida continuou na 'mesmice' de sempre. Maria se contentou.
De resto, os sonhos não passaram de sonhos que se sonham à meia noite. Maria teve medo até de sonhar.

Um nunca permitiu. Maria sempre 'ressentiu'. E a cápsula nunca explodiu.

She lives in a bubble. And he never allowed her to leave.

"Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão 
Um dia me disseram que os ventos às vezes erram a direção

[...]
Somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter"


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Uma fábula inventada


Um dia, ganhei um vaso de terra do meu vizinho. Dizia ele que eu teria que cuidar, até brotar um caule fino, com raízes rasas, pois depois se tornaria um vaso cheio de pimenta, com raízes mais fortificadas e muito bem cultivadas.
Ainda que eu olhasse com carinho para o vaso de terra, nada imaginei. Com o tempo, cuidando todos os dias, nasceram vários caules, tão finos quanto os que aquele dia o meu vizinho descreveu. Não sei se foi excesso de sementes ou o cuidado mesmo, mas nasceram tantos caules, tantos "pés", que teve ele que "ralhar".
Sem entender, observei. Ele arrancou os caules mais finos, com as raízes mais superficiais, do meu vaso de planta, implantando-os em outro vaso. Da mesma "leva", dividiram-se em dois vasos.
As minhas que continuaram mantiveram o crescimento das raízes firmes, engrossando o caule a cada dia. Hoje brotam as primeiras pimentas, ainda verdes.
O outro vaso, aquele o qual foram replantados os caules com as raízes ainda muito novas, cresceram, talvez com uma capacidade de adaptação, porém, com as raízes sempre prontas para a próxima mudança.
Eram sementes do mesmo saco, da mesma origem.